sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Lean na administração pública: o caso da poda de árvores

Para o primeiro post de 2011, algo que venho comentando tem tempo. Se aplicarmos conceitos Lean na administração pública, muita gente sairia da zona de conforto e muito dinheiro público seria economizado.

Há pouco estava trafegando em SP, próximo ao Pacaembú e recebi um jornal Metro. Trata-se de uma publicação diária que é distribuído gratuitamente em semáforos na cidade de SP. Pois bem, a matéria de capa de hoje me chamou a atenção: FALTA EQUIPE PARA PODAR ÁRVORES, DIZ SUBPREFEITO. Veja abaixo o jornal em questão e a matéria:


 


A demanda mensal de árvores a serem podadas por essa sub-prefeitura (Lapa), segundo a matéria, é de 3.520 árvores. Se calcularmos então o Tempo Takt (grau de necessidade do cliente dividido pelo tempo de disponível), seria assim:

Demanda = 3.520 árvores
Tempo disponível = 140 hrs (considerando 22 dias úteis de trabalho, 8 hrs / dia, com uma perda de produtividade de 20%)
Tempo Takt = Demanda / tempo disponível => 3.520 / 140 = 25 árvores / hora
A sub-prefeitura possui 54 funcionários dedicados a esse tipo de serviço, ou seja, estamos falando de uma "produção" horária de 0,5 árvore / pessoa / hora.
1 árvore podada a cada 2 hrs!

A pergunta é: qual seria o tempo de ciclo para a poda de uma árvore? Claro que existem árvores mais complexas do que outras, do mesmo modo que existem outras mais simples também. Conversando com especialistas no ramo, todos confirmaram que de fato, 2 horas, em média, é tempo mais do que suficiente para podar uma árvore, ou seja, a demanda de podas atual consegue tranquilamente ser atendida, sem a menor necessidade de aumento de pessoal, como sugerido pelo sub-prefeito.

O que o sub-prefeito poderia se preocupar seria em melhorar o absurdo de tempo empregado até a liberação da poda de uma árvore, período esse que varia de 2 meses até 1 ano!!!!! Isso reflete diretamente na produtividade pífia de 200 serviços por mês, conforme informado pelo sub-prefeito na matéria.

Outra oportunidade: será que a poda de árvores é planejada para minimizar o tempo de deslocamento + o tempo de preparação? existe alguém que trabalha na "engenharia de tráfego para esse setor? Existe uma métrica para acompanhamento da demanda? Existe um monitoramento desta métrica? Ações são tomadas para atingir a meta? Um bom plenejamento aliado a metas bem estabelecidas e monitoradas, no mínimo, diariamente, garantiriam o completo atendimento da demanda atual. Como citei no início, um pouco de gestão na administração pública daria um resultado enorme.

Por fim e para comprovar tudo isso, o mais curioso foi o apurado pela Secretaria da Sub-prefeitura: em 2010, 99 mil serviços foram executados, frente a uma demanda de 46 mil pedidos, mostrando, novamente com números, que parte do Orçamento de 2011 será mal investido, ou pior, será investido onde não existe a menor necessidade!!!

3 comentários:

  1. A adm publica deve ser um campo vasto e verde para introduzir conceitos lean. Na verdade, acho que primeiramente, poderia se aplicar "bom senso", etica, trabalho com amor ao bem estar das comunicades e humanidade. Muito ja' se ganharia certamente.

    Mas voltando ao caso de lean na adm. publica: como os problemas sao identificados e tratados? Gestao Visual? tornar transparente os processos, indicadores, desvios, etc? tambem ja' seriam bons passos iniciais para uma gestao na direcao de melhor produtividade.

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  2. Realmente me parece que a adm. pública sofre - entre outros problemas, da falta de políticas adequadas.
    Na Inglaterra e US fala-se muito em "policy" para indicar a política adotada para resolver um determinado problema. No Brasil não temos um termo equivalente para Policy. Usamos de modo indiscriminado o termo política.
    Como já sabemos, política se muda de acordo com o governo atual. Cada novo eleito tem suas preferências políticas ou idéias. E não estou discutindo a validade de cada uma delas.
    O problema aparece porque na verdade sempre temos políticas - normalmente formuladas por políticos, e não temos nenhuma ESTRATÉGIA - ou Policy.
    Por fim, política deve ser feita por políticos, mas Estratégias devem ser feitas por especialistas. É uma ciência, e como tal, independente de ponto de vista. Contra dados não deveria haver argumentos! Mas isso é assunto para outra discussão.

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  3. Caro Luciano,

    Sua argumentação vai de encontro ao que desenvolvemos no Programa Especial de Manejo Integrado de Árvores e Redes da Cemig aqui em Belo Horizonte. Gostaria de discutir melhor com você esse assunto. Se tiver interessado favor entrar em contato conosco através do email premiar@cemig.com.br ou casal@cemig.com.br

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