sexta-feira, 22 de julho de 2011

Superprodução em alta!

Por Luciano Peloche

Domingo o jornal Estado de S. Paulo publicou uma matéria sobre o nível elevado de estoques em várias fábricas brasileiras e o impacto que isso vem causando nos negócios dessas empresas.

http://www.baixarnogoogle.com/2011/07/jornal-o-estado-de-sp-em-pdf-domingo-17.html

Logo no início da matéria, lemos:
"O descompasso entre o ritmo de produção das fábricas e as vendas do varejo provocou um aumento dos estoques em setores importantes, como carros, embalagens, materiais de construção e até alimentos na virada do semestre. Com encalhe crescente, houve indústrias que iniciaram o mês dando férias ou cortando hora extra. O comércio reduziu pedidos e optou por promoções nas quais na compra de um item, o segundo é de graça." 
Apesar de bastante conhecido, nem sempre o que chamamos de tempo takt* é bem utilizado nas empresas e acaba tornando-se um marco importante em uma transformação Lean.

* conforme definição do Léxico Lean, o objetivo do tempo takt é alinhar a produção à demanda do cliente, fornecendo um ritmo ao sistema de produção. É obtido pela divisão do tempo disponível pela demanda.

É bastante comum em empresas a utilização de indicadores de desempenho que medem volume de produção x capacidade disponível, afinal, investir em máquinas e equipamentos gera a consequente necessidade de usar ao máximo o recurso para que o investimento seja válido.

Por isso, aplicar o tempo takt é uma grande mudança gerencial. O conceito to tempo takt visa principalmente combater o maior de todos os desperdícios: a superprodução, isto é, produzir mais do que o cliente deseja. A superprodução acaba então levando aos outros desperdícios que são conhecidos. Produtos a mais, tornan-se estoques parados, que podem virar refugos, ou seja, geram apenas um grande prejuízo financeiro.

Nas fábricas citadas pela matéria, claramente a superprodução falou mais alto. O tal descompasso entre o ritmo da produção e o ritmo de vendas só podia ter como consequência lógica férias antecipadas e excesso de estoques.

Utilizar o tempo takt promove uma revolução na empresa quando ele passa a ser usado como o tempo do negócio. É o compromisso entre as áreas da empresa: vendas, manufatura, suprimentos, que o usam como a referência.

Operar usando o tempo takt traz inúmeros benefícios e acredito que essa seria uma boa hora para as empresas citadas na matéria avaliarem esses benefícios e fazer essa mudança.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Negócio da China

Por Luciano Peloche

No dia 3/Julho, o Jornal Zero Hora publicou uma matéria muito interessante sobre a construção de uma ponte sobre o Rio Guaíba, em Porto Alegre. O projeto da nova ponte do Guaíba, em Porto Alegre, é uma das mais vistosas promessas da presidente Dilma e foi confiado ao Ministério dos Transportes. Com 2,9 quilômetros de extensão e um orçamento de R$1,16 bilhões, a previsão de conclusão da obra é de 4 anos.

A matéria traz também uma comparação muito interessante sobre o projeto da ponte do Guaíba e um projeto recém finalizado na China. O governo chinês inaugurou a ponte da baía de Jiaodhou, que liga o porto de Qingdao à ilha de Huangdao. Construído em 4 anos, a ponte colossal tem 42 quilômetros de extensão e custou o equivalente a R$2,4 bilhões.

A comparação entre ambas acaba se tornando óbvia, intrigante e revoltante. Os números informam que, se o Guaíba ficasse na China, a obra seria concluída em 102 dias, ao custo de R$170 milhões. Se a baía de Jiadhou ficasse no Brasil, a ponte não teria prazo pra terminar e seria calculada em trilhões. Vejamos abaixo uma tabela comparativa:


No post Insatisfação na Construção Civil, explorei um pouco a questão dos desperdícios presentes na construção civil e as principais causas que levam as obras aos níveis de atrasos que vemos hoje em dia. Neste caso, mais do que os desperdícios, existe um forte fator chamado "corrupção" que contribui muito para um quadro comparativo tão ruim quanto o apresentado. Os desperdícios estão presentes sim, contribuindo para a diferença grande no Lead Time e Custo da construção, mas nesse caso não são os fatores principais. Tanto é verdade, que 3 dias após a matéria, o Ministro dos Transportes foi gentilmente convidado pela presidente a se retirar do Governo.

O que deveria ser feito agora é uma total revisão de orçamento e prazo da obra do Guaíba, de modo que o referencial seja o projeto da China. Será que isso vai ocorrer? Precisamos ficar de olho.