domingo, 21 de agosto de 2011

Produção em lote x fluxo contínuo

Desde Fevereiro desse ano, uma parte da estrada que eu pego pra levar minha esposa e meu filho para a escola, está em obras de recapeamento. Estamos falando de uma estrada com três faixas de rolamento, duplas, separadas por um canteiro central. O trecho que está sendo recapeado tem a extensão equivalente de 50Km (pistas + acostamento, ida e volta).
A obra já está em fase final, mas me chamou a atenção pelo modo como foi conduzida. Peço perdão aos engenheiros civis pela ausência de termos técnicos, mas basicamente a obra tem o seguinte padrão operacional: desbate do asfalto antigo, desbaste fino (acabamento), preenchimento com novo asfalto, assentamento do novo asfalto e acabamento final, com pintura e sinalização de segurança (olho de gato, placas, etc). Claro que isso é um super resumo, apenas para explicar conceitualmente.
 
Como era feita a obra?  Uma das faixas de rolamento era isolada por muitos metros, julgo que uns 500 metros, se não mais. Nesse trecho, iniciavam-se os trabalhos. Pelo que constatei, o desbaste era mais rápido que o acabamento, então rapidamente esse trecho era desbastado e estava pronto para receber o novo asfalto. Acontece que, como o acabamento levava um tempo maior pra ser concluído, o impacto do grande lote de desbaste era enorme no trânsito. Grande parte da pista, que já estava desbastada, ficava sem condições de uso e ainda não seria re-asfaltada. Impacto negativo para o cliente, nós usuários da rodovia. Impacto negativo também para a construtora, que agora tinha máquinas de desbaste estacionadas, pois ainda tinham muitos metros de acabamento até iniciar o novo lote de desbaste. Cenário ruim para todos.

E se fosse feito aplicando o conceito de fluxo contínuo? Vamos diminuir o tamanho do desbaste para, por exemplo, 50 metros. Em 1/10 do tempo teríamos o trecho novo concluído, pronto para re-asfaltar o próximo trecho. Existe uma grande chance de o tempo total final dos 500 metros ser o mesmo, porém as vantagens são inúmeras.
 
Imagine, por exemplo, que as máquinas que fazem acabamento tenham algum problema. Teríamos muitos metros de pista desbastada e vários dias de transtorno para todos. Lotes grandes geram apenas lead time grande. Fluxo contínuo traz o benefício de melhorar o fluxo de caixa, pois o "produto acabado" está disponível para o cliente mais rapidamente. Nesse exemplo, em poucos dias, os usuários teriam 50 metros novinhos de pista para circular.

Trata-se de uma quebra de paradigma de que grandes lotes é mais vantajoso. Acreditem, não é!

5 comentários:

  1. Meu professor do MBA, de Logística, Luiz Carlos Ferrante, demonstrou na pratica com um jogo de Lego nas 3 últimas semanas. Com simulações, alterando vários parâmetros de "produção", analisamos os efeitos um a um, e constatamos exatamente a eficácia do conceito de lote reduzido e unitário.

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  2. Caro Luciano,
    Tenho aprendido duas coisas que gostaria da compartilhar, a primeira é que não existe verdade absoluta, portanto se é verdade que quase sempre lotes unitários ou pequenos são a melhor saída, existem alguns poucos casos em que o lote maior é favorável por questões de propriedade física ou química ou de logística. Portanto devemos sempre estudar a maneira mais econômica de atender o cliente no prazo e na qualidade pretendida. A segunda é que a noção do que é pequeno lote varia muito de situação para situação, vivenciei exemplo semelhante ao descrito em uma obra do Exercito, realizada em pista de mão única no sul da Bahia e tenho acompanhado obra da CCR, realizada na Dutra em que o desbaste ocorre em um turno, à noite para não incomodar o cliente, e o recapeamento em três turnos sendo os quinhentos metros concluídos no mesmo dia.
    Cabe-nos propor a forma mais econômica e melhor de atender o cliente, contudo é o nível de exigência do cliente que será determinante em nossa forma de trabalhar.

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  3. Oi Reinaldo,
    Seu comentário foi absolutamente perfeito! Sinceramente não sei se o caso da obra que citei era o mesmo da obra que vc citou. Procurei contextualizar o que vi e vivi nesses meses, sob minha ótica. Sem dúvida que devem existir premissas que desconheço, mas concordamos que o cliente deve estar sempre em primeiro lugar.
    grande abraço!

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  4. Caro Luciano:
    Excelente aplicação do fluxo contínuo! Parabéns!
    Será que o engenheiro da firma que está fazendo o recapeamento sabe o que é fluxo contínuo? Se não, deveria. Descubra o site deles e sugira ler o seu "case"!
    Hiroaki, consultor, mas sempre aprendendo...com muito "sunao" (termo em japonês = receptivo a sugestões, ordens, humildade...)
    hirokok@uol.com.br

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  5. Neste caso concordo com o comentário do Sr. Reinaldo, pois no caso de um remendo de 50mts, teríamos uma emenda de asfalto a cada segmento de 50mts. O que resultaria em um asfalto cheio de pequenas emendas e com baixa resistencia ao atrito e por fim fragilizado e apresentando falhas nas emendas, porem a situação de se fragilizar a noite e utilizar os outros 3 turnos para asfaltar é ótima.

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